sábado, 3 de maio de 2025

Verdade ou Mito? 8 Afirmações Sobre Cerveja Que Muita Gente Erra

Descubra mitos e verdades sobre o universo da cerveja em um artigo informativo e descontraído para apaixonados por cultura cervejeira.

A cultura cervejeira está repleta de histórias, tradições e informações que passam de boca em boca – muitas verdadeiras, mas outras nem tanto. No meio de tantas garrafas, copos e estilos, é comum ver mitos ganhando status de fato e verdades sendo descartadas como invenção. Neste artigo, vamos esclarecer oito afirmações populares sobre cerveja, separando o que é real daquilo que não passa de lenda urbana. Prepare seu copo, acomode-se com uma boa cerveja do lado e venha desbravar essas curiosidades com a gente.

1. A cerveja mais antiga do mundo foi criada no Egito Antigo.
Falso. Embora os egípcios tenham contribuído enormemente para a história da cerveja, registros arqueológicos mais antigos apontam que a bebida já era produzida na Mesopotâmia por volta de 5.000 a.C., especialmente pelos sumérios. A famosa Himno a Ninkasi, de cerca de 1.800 a.C., é um poema sumério que descreve o processo de fabricação da cerveja, o que indica que essa prática já era bem consolidada antes mesmo de o Egito antigo entrar na jogada. Portanto, a cerveja egípcia era sofisticada para a época, mas não foi a pioneira.

2. A maioria das cervejas comerciais utiliza lúpulo como principal ingrediente para dar amargor e aroma.
Verdadeiro. O lúpulo é hoje um dos quatro ingredientes fundamentais da cerveja – ao lado da água, do malte e da levedura. Ele é responsável não só pelo amargor característico de muitas cervejas, mas também pelo aroma floral, cítrico, herbáceo ou resinoso, dependendo da variedade utilizada. Desde que sua utilização se consolidou na Europa medieval, principalmente a partir do século XI, o lúpulo passou a dominar as receitas, substituindo outros ingredientes usados anteriormente para equilibrar o sabor doce do malte.

3. A cerveja sem álcool é feita com a mesma receita da cerveja normal, mas o álcool é removido após a fermentação.
Verdadeiro. Existem algumas técnicas para se produzir cerveja sem álcool, e a mais comum entre elas é, de fato, fermentar a bebida normalmente e depois retirar o álcool por meio de processos como evaporação a vácuo, osmose reversa ou destilação. Há também métodos de fermentação controlada, que impedem que o teor alcoólico ultrapasse determinado limite, mas a maioria das grandes marcas usa o processo de remoção. É por isso que muitas cervejas sem álcool mantêm sabores bem próximos aos de suas versões convencionais.

4. As cervejas lager são piores e mais vulgares do que as cervejas ale.
Falso. Essa ideia é fruto de um certo preconceito que surgiu com a popularização em massa das lagers leves, como as pilsens comerciais, que dominaram o mercado mundial no século XX. No entanto, o estilo lager engloba uma variedade imensa de subestilos, muitos deles complexos, encorpados e requintados, como as Bocks, Dunkels e Märzens. Assim como as ales, as lagers têm sua própria identidade, métodos de fermentação e perfis sensoriais, e não há qualquer fundamento técnico para dizer que um é melhor ou pior do que o outro. É questão de gosto e ocasião.

5. A cerveja artesanal tem sempre mais teor alcoólico do que as cervejas comerciais.
Falso. Embora muitas artesanais apostem em estilos mais alcoólicos para explorar sabores intensos e diferenciados – como as Imperial IPAs e Stouts –, isso não é uma regra. Existem inúmeras artesanais leves, refrescantes e com baixos teores alcoólicos, como session ales, wheat beers e algumas lagers artesanais. O que caracteriza uma cerveja como artesanal não é seu teor alcoólico, mas sim seu processo de produção, uso de ingredientes naturais e foco na qualidade e originalidade, muitas vezes feito em menor escala e com menos aditivos.

6. A cerveja lager é fermentada a uma temperatura mais baixa do que a cerveja ale.
Verdadeiro. Essa é uma das diferenças fundamentais entre os dois grandes grupos de cerveja. As lagers utilizam leveduras do tipo Saccharomyces pastorianus, que fermentam melhor em temperaturas entre 7 °C e 13 °C. Já as ales usam Saccharomyces cerevisiae, que atuam melhor entre 15 °C e 24 °C. Essa diferença de temperatura influencia profundamente no sabor: enquanto as ales tendem a ter ésteres frutados e aromas mais complexos, as lagers apresentam um perfil mais limpo, suave e refrescante, com menos interferência da levedura no paladar.

7. Ser puro malte é sinal de mais qualidade e melhores degustações.
Depende. A designação "puro malte" indica que a cerveja foi feita exclusivamente com malte de cevada (ou outros maltes) sem o uso de adjuntos como milho ou arroz. Isso pode, sim, resultar em sabores mais intensos, encorpados e complexos, especialmente para quem aprecia uma experiência sensorial mais rica. No entanto, isso não significa automaticamente que toda cerveja puro malte seja melhor do que uma com adjuntos. Há rótulos que usam cereais não maltados com propósito técnico ou para dar leveza, como em muitas lagers americanas, e ainda assim são bem feitas e equilibradas.

8. A harmonização entre cerveja e comida obedece regras rígidas que jamais devem ser quebradas.
Falso. Existem diretrizes que ajudam a guiar harmonizações, como o equilíbrio entre sabores, a contraposição de sensações (como amargor e gordura) e a busca por complementar aromas. Contudo, a harmonização é, acima de tudo, uma experiência subjetiva e pessoal. O mais importante é que a combinação agrade ao paladar do degustador. Não há problema algum em fugir do esperado – já vi harmonizações improváveis que funcionaram maravilhosamente bem. A ousadia pode surpreender e ampliar o repertório gustativo de quem está explorando esse universo.


O mundo da cerveja é vasto, saboroso e cheio de nuances. Separar mitos de verdades ajuda não apenas a enriquecer o conhecimento do apreciador, mas também a tornar a experiência de beber cerveja mais consciente e prazerosa. É importante manter a curiosidade, experimentar novos estilos, desconstruir preconceitos e valorizar tanto a tradição quanto a inovação. Afinal, beber cerveja não é apenas refrescar o corpo, mas também brindar a cultura, a história e o prazer sensorial. Saúde!


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Autor: Thiago Neto

Autor: Thiago Neto
Minha expertise em cervejas vem da leitura do Larousse da cerveja, Guia Oxford da Cerveja, dentre outros e experiências em degustar variedades de cervejarias do Brasil e exterior, grandes e artesanais. Isso aprimorou minha compreensão de métodos de serviço, harmonização e degustação, ampliando meu conhecimento dos estilos cervejeiros.