A cultura cervejeira está repleta de histórias, tradições e informações que passam de boca em boca – muitas verdadeiras, mas outras nem tanto. No meio de tantas garrafas, copos e estilos, é comum ver mitos ganhando status de fato e verdades sendo descartadas como invenção. Neste artigo, vamos esclarecer oito afirmações populares sobre cerveja, separando o que é real daquilo que não passa de lenda urbana. Prepare seu copo, acomode-se com uma boa cerveja do lado e venha desbravar essas curiosidades com a gente.
1. A cerveja
mais antiga do mundo foi criada no Egito Antigo.
Falso.
Embora os egípcios tenham contribuído enormemente para a história
da cerveja, registros arqueológicos mais antigos apontam que a
bebida já era produzida na Mesopotâmia por volta de 5.000 a.C.,
especialmente pelos sumérios. A famosa Himno a Ninkasi, de
cerca de 1.800 a.C., é um poema sumério que descreve o processo de
fabricação da cerveja, o que indica que essa prática já era bem
consolidada antes mesmo de o Egito antigo entrar na jogada. Portanto,
a cerveja egípcia era sofisticada para a época, mas não foi a
pioneira.
2. A maioria
das cervejas comerciais utiliza lúpulo como principal ingrediente
para dar amargor e aroma.
Verdadeiro.
O lúpulo é hoje um dos quatro ingredientes fundamentais da cerveja
– ao lado da água, do malte e da levedura. Ele é responsável não
só pelo amargor característico de muitas cervejas, mas também pelo
aroma floral, cítrico, herbáceo ou resinoso, dependendo da
variedade utilizada. Desde que sua utilização se consolidou na
Europa medieval, principalmente a partir do século XI, o lúpulo
passou a dominar as receitas, substituindo outros ingredientes usados
anteriormente para equilibrar o sabor doce do malte.
3. A cerveja
sem álcool é feita com a mesma receita da cerveja normal, mas o
álcool é removido após a fermentação.
Verdadeiro.
Existem algumas técnicas para se produzir cerveja sem álcool, e a
mais comum entre elas é, de fato, fermentar a bebida normalmente e
depois retirar o álcool por meio de processos como evaporação a
vácuo, osmose reversa ou destilação. Há também métodos de
fermentação controlada, que impedem que o teor alcoólico
ultrapasse determinado limite, mas a maioria das grandes marcas usa o
processo de remoção. É por isso que muitas cervejas sem álcool
mantêm sabores bem próximos aos de suas versões convencionais.
4. As
cervejas lager são piores e mais vulgares do que as cervejas
ale.
Falso. Essa ideia é fruto de um
certo preconceito que surgiu com a popularização em massa das
lagers leves, como as pilsens comerciais, que dominaram o mercado
mundial no século XX. No entanto, o estilo lager engloba uma
variedade imensa de subestilos, muitos deles complexos, encorpados e
requintados, como as Bocks, Dunkels e Märzens. Assim como as ales,
as lagers têm sua própria identidade, métodos de fermentação e
perfis sensoriais, e não há qualquer fundamento técnico para dizer
que um é melhor ou pior do que o outro. É questão de gosto e
ocasião.
5. A cerveja
artesanal tem sempre mais teor alcoólico do que as cervejas
comerciais.
Falso. Embora muitas
artesanais apostem em estilos mais alcoólicos para explorar sabores
intensos e diferenciados – como as Imperial IPAs e Stouts –, isso
não é uma regra. Existem inúmeras artesanais leves, refrescantes e
com baixos teores alcoólicos, como session ales, wheat beers e
algumas lagers artesanais. O que caracteriza uma cerveja como
artesanal não é seu teor alcoólico, mas sim seu processo de
produção, uso de ingredientes naturais e foco na qualidade e
originalidade, muitas vezes feito em menor escala e com menos
aditivos.
6. A cerveja
lager é fermentada a uma temperatura mais baixa do que a cerveja
ale.
Verdadeiro. Essa é uma das
diferenças fundamentais entre os dois grandes grupos de cerveja. As
lagers utilizam leveduras do tipo Saccharomyces pastorianus,
que fermentam melhor em temperaturas entre 7 °C e 13 °C. Já as
ales usam Saccharomyces cerevisiae, que atuam melhor entre
15 °C e 24 °C. Essa diferença de temperatura influencia
profundamente no sabor: enquanto as ales tendem a ter ésteres
frutados e aromas mais complexos, as lagers apresentam um perfil mais
limpo, suave e refrescante, com menos interferência da levedura no
paladar.
7. Ser puro
malte é sinal de mais qualidade e melhores degustações.
Depende.
A designação "puro malte" indica que a cerveja foi feita
exclusivamente com malte de cevada (ou outros maltes) sem o uso de
adjuntos como milho ou arroz. Isso pode, sim, resultar em sabores
mais intensos, encorpados e complexos, especialmente para quem
aprecia uma experiência sensorial mais rica. No entanto, isso não
significa automaticamente que toda cerveja puro malte seja melhor do
que uma com adjuntos. Há rótulos que usam cereais não maltados com
propósito técnico ou para dar leveza, como em muitas lagers
americanas, e ainda assim são bem feitas e equilibradas.
8. A
harmonização entre cerveja e comida obedece regras rígidas que
jamais devem ser quebradas.
Falso.
Existem diretrizes que ajudam a guiar harmonizações, como o
equilíbrio entre sabores, a contraposição de sensações (como
amargor e gordura) e a busca por complementar aromas. Contudo, a
harmonização é, acima de tudo, uma experiência subjetiva e
pessoal. O mais importante é que a combinação agrade ao paladar do
degustador. Não há problema algum em fugir do esperado – já vi
harmonizações improváveis que funcionaram maravilhosamente bem. A
ousadia pode surpreender e ampliar o repertório gustativo de quem
está explorando esse universo.
O mundo da
cerveja é vasto, saboroso e cheio de nuances. Separar mitos de
verdades ajuda não apenas a enriquecer o conhecimento do apreciador,
mas também a tornar a experiência de beber cerveja mais consciente
e prazerosa. É importante manter a curiosidade, experimentar novos
estilos, desconstruir preconceitos e valorizar tanto a tradição
quanto a inovação. Afinal, beber cerveja não é apenas refrescar o
corpo, mas também brindar a cultura, a história e o prazer
sensorial. Saúde!
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