A história da cerveja remonta a milhares de anos, e em muitas culturas, ela está associada a divindades que protegem e inspiram os cervejeiros. Uma dessas divindades é a deusa Ninkasi, venerada na antiga mitologia suméria como a protetora da cerveja e a inspiração por trás da sua produção. Neste artigo, vamos explorar a fascinante história da deusa Ninkasi, sua conexão com a cerveja e como sua figura perdura até os dias de hoje na cultura cervejeira. Prepare-se para mergulhar em um universo mitológico e cervejeiro repleto de encanto e sabor.
A Origem da Deusa Ninkasi:
Ninkasi é uma antiga deusa suméria, cujo nome deriva de "Nin", que significa "senhora", e "Kasi", que se refere à cerveja. Ela é uma das divindades mais reverenciadas na mitologia suméria, uma civilização da Mesopotâmia que habitou a região que hoje conhecemos como Iraque, há mais de 6 mil anos. Os sumérios, reconhecidos como os primeiros a produzirem cerveja em grande escala, acreditavam que a arte de fabricar a bebida lhes foi ensinada por Ninkasi, uma figura poderosa e benevolente.
Ninkasi, a Deusa da Cerveja:
Na mitologia suméria, Ninkasi era considerada a deusa da cerveja e da fermentação. Sua imagem estava intrinsecamente ligada à produção da bebida, e ela era cultuada pelos cervejeiros como uma protetora e fonte de inspiração. Os sumérios enxergavam a cerveja como um dom divino, e a figura de Ninkasi personificava essa conexão sagrada entre os deuses e a arte da fermentação.
Hino a Ninkasi: A Receita da Cerveja Milenar:
Uma das mais notáveis referências à deusa Ninkasi é o "Hino a Ninkasi", um poema sumério que contém uma espécie de receita para a produção da cerveja. Escrito em tabuletas de argila datadas de aproximadamente 1800 a.C., o hino é uma bela homenagem à deusa e um guia prático para os cervejeiros da época. Nele, cada etapa do processo de fabricação da cerveja é exaltada como um ato sagrado, uma forma de louvar Ninkasi e sua generosidade ao conceder a bebida aos mortais.
Nascida da água corrente (…)
Delicadamente cuidada por Ninhursag
Nascida da água corrente (…)
Delicadamente cuidada por Ninhursag
Tendo fundado sua cidade pelo lago sagrado,
Ela rematou-a com grandes muralhas por você,
Ninkasi, fundando sua cidade pelo lago sagrado,
Ela rematou-a com grandes muralhas por você.
Seu pai é Enki, Senhor Nidimmud,
Sua mãe é Ninti, a rainha do lago sagrado,
Ninkasi, seu pai é Enki, Senhor Nidimmud,
Sua mãe é Ninti, a rainha do lago sagrado.
Você é a única que maneja a massa,
com uma grande pá,
Misturando em uma cova o bappir com ervas aromáticas doces,
Ninkasi, você é a única que maneja
a massa com uma grande pá,
Misturando em uma cova o bappir com tâmaras ou mel.
Você é a única que assa o bappir
no grande forno,
Coloca em ordem as pilhas de sementes descascadas,
Ninkasi, Você é a única que assa
o bappir no grande forno,
Coloca em ordem as pilhas de sementes descascadas,
Você é a única que rega o malte
jogado pelo chão,
Os cães fidalgos mantém distância, até mesmo os soberanos,
Ninkasi, você é a única que rega o malte
jogado pelo chão,
Os cães fidalgos mantém distância, até mesmo os soberanos.
Você é a única que embebe o malte em um cântaro
As ondas surgem, as ondas caem.
Ninkasi, você é a única que embebe
o malte em um cântaro
As ondas surgem, as ondas caem.
Você é a única que estica a pasta
assada em largas esteiras de palha,
A frialdade dominou.
Ninkasi, Você é a única que estica
a pasta assada em largas esteiras de palha,
A frialdade dominou.
Você é a única que segura com ambas as mãos
o magnífico e doce sumo,
Fermentando-o com mel e vinho
(Você, o doce sumo para o eleito)
Ninkasi, (…)
(Você, o doce sumo para o eleito).
O barril filtrador, que faz
um som agradável,
Você ocupa apropriadamente o topo
de um grande barril coletor.
Ninkasi, o barril filtrador,
que faz um som agradável,
Você ocupa apropriadamente o topo
de um grande barril coletor.
Quando você despeja a cerveja filtrada
do barril coletor,
é como os barulhos dos cursos
do Tigris e do Euphrates.
Ninkasi, você é a única que despeja
a cerveja filtrada do barril coletor,
é como os barulhos dos cursos
do Tigris e do Euphrates.
A Arte Milenar da Fabricação da Cerveja:
Na antiga Mesopotâmia, a cerveja era uma das bebidas mais apreciadas e consumidas pela sociedade. Ela desempenhava papéis essenciais tanto na esfera religiosa como no cotidiano. Além de ser ofertada aos deuses como um símbolo de gratidão, a cerveja também era um alimento básico na dieta diária das pessoas. Sua produção envolvia a utilização de ingredientes naturais, como cevada, água e leveduras selvagens, e a fermentação ocorria em grandes potes de argila.
A Sobrevivência do Legado de Ninkasi:
Apesar de milênios terem se passado desde a veneração da deusa Ninkasi pelos sumérios, seu legado e influência continuam presentes na cultura cervejeira até os dias atuais. A reverência à figura feminina da deusa cervejeira também se estendeu para outras mitologias e religiões, como a deusa Dionísio na Grécia Antiga, a deusa Brigid na Irlanda e a deusa Ixchel entre os maias. Essa presença reflete a importância histórica das mulheres na fabricação da cerveja, um papel que elas desempenhavam com destreza e sabedoria.
A Celebração de Ninkasi nos Dias de Hoje:
Em tempos modernos, a deusa Ninkasi continua a ser homenageada em diversos eventos e festivais cervejeiros ao redor do mundo. O resgate e valorização da cultura cervejeira tradicional têm dado visibilidade à figura de Ninkasi, e muitos cervejeiros artesanais se inspiram na mitologia suméria para criar cervejas que prestam homenagem à deusa da cerveja.
Conclusão:
A deusa Ninkasi representa muito mais do que uma figura mitológica da antiga Mesopotâmia. Ela personifica a conexão profunda e mística entre a cerveja e a humanidade, uma bebida que foi capaz de unir povos e culturas ao longo de milênios. Através do "Hino a Ninkasi", podemos reviver a magia da fabricação da cerveja como uma forma de arte, onde cada etapa é conduzida com reverência e dedicação.
A história da deusa Ninkasi é um lembrete poderoso da riqueza cultural e espiritual que envolve a cerveja. Seu legado perdura na tradição cervejeira e nos corações daqueles que, com cada gole, celebram a união da humanidade com a arte da fermentação. Que possamos brindar à deusa Ninkasi e à magia da cerveja, honrando essa bebida milenar que continua a nos encantar e unir, como um presente divino que atravessa o tempo. Prost!
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