A cena cervejeira brasileira assistiu a uma mudança notável. Recentemente, a Ambev confirmou o fechamento do bar da Cervejaria Bohemia, em Petrópolis (RJ), um espaço que por anos foi ponto de encontro para entusiastas. Esta decisão, contudo, vai muito além de um simples encerramento de portas; ela sinaliza uma clara redefinição nas prioridades da gigante cervejeira, o que indica uma nova direção para o setor de hospitalidade e para o próprio portfólio de marcas.
A Ambev encerrou a operação do bar da Bohemia, e isso reforça uma saída gradual da gestão direta de bares e brewpubs no Brasil. Meses antes, o Goose Island Brewhouse em São Paulo também teve seu encerramento, numa lógica similar. A empresa justifica essa medida como parte de uma reestruturação nacional. Outros locais, como o Bar Toca do Urso da cervejaria Colorado, em Ribeirão Preto, e o Bar Brahma em São Paulo, igualmente encerraram atividades sob gestão direta da Ambev. Nesses casos, parceiros externos assumiram a operação dos estabelecimentos.
A empresa demonstra que a estratégia de usar espaços próprios para aproximar consumidores das marcas já não faz parte de suas prioridades. Hoje, a Ambev direciona esforços para ampliar a eficiência de suas operações e acelerar o crescimento de marcas premium de maior escala, como Corona, Spaten, Budweiser e Stella Artois. A companhia se concentra na inovação de produtos, na distribuição e na expansão de rótulos estratégicos, em vez de assumir os custos e as complexidades operacionais do setor de hospitalidade.
A Bohemia é a primeira cervejaria do Brasil, fundada em 1853, e por anos representou uma referência no segmento premium. Contudo, a marca perdeu protagonismo dentro do portfólio da Ambev. Atualmente, as maiores apostas da companhia estão em marcas globais com maior reconhecimento em escala. A Bohemia, apesar de sua rica história, não figura entre as cervejas com maior investimento em marketing ou expansão comercial da empresa.
Embora o bar tenha fechado, a fábrica e o museu da Bohemia em Petrópolis continuam em operação. Isso preserva o caráter turístico da marca, e a unidade industrial da cidade segue com a produção de rótulos especiais de menor escala, como Hoegaarden e Patagônia. A Ambev busca otimizar sua malha produtiva, com reserva de grandes plantas industriais para marcas de alto volume, como Spaten e Brahma, enquanto a fábrica de Petrópolis atua como polo para cervejas de nicho. A valorização turística da Bohemia funciona como um espaço estratégico de diferenciação no portfólio. A empresa já avalia novas parcerias para os locais onde funcionavam o bar e o restaurante, e funcionários serão realocados dentro da própria Bohemia ou transferidos para outras unidades da Ambev.
A decisão de fechar o bar da Cervejaria Bohemia é um reflexo claro de uma Ambev que se move em uma nova direção estratégica. A empresa reafirma seu compromisso com a eficiência e o crescimento de marcas de grande escala, ao passo que reposiciona ativos históricos como a Bohemia para um papel mais focado no legado, no turismo e na produção de rótulos especiais. Para os amantes de cerveja, o museu e a fábrica permanecem, e isso garante que a história continue a ser contada, mesmo que o brinde agora aconteça em outros lugares.
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