A história da cerveja artesanal brasileira é vibrante, repleta de inovações e descobertas. No entanto, o que poucos esperavam, ou sequer imaginavam, é que o Nordeste se tornaria um palco central para uma das revoluções mais interessantes no cultivo de um de seus ingredientes mais nobres: o lúpulo. Prepare-se para conhecer a jornada de Alagoas, que não apenas quebrou paradigmas, mas também brinda o país com uma produção premiada.
Alagoas cravou seu nome como o primeiro estado do Nordeste a cultivar lúpulo em escala comercial, um feito notável que ganha destaque no cenário nacional. Esta iniciativa pioneira, liderada pela empresa Hop Is All, contou com o apoio fundamental da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a renomada Embrapa. O cultivo do lúpulo iniciou-se em 2022, na pitoresca União dos Palmares, e rapidamente alcançou reconhecimento, com fornecimento a microcervejarias locais com um insumo de qualidade para suas criações sazonais e especiais.
A qualidade do lúpulo alagoano não tardou a ser validada. Em 2023, o produto conquistou duas medalhas de prata na prestigiada Copa Brasileira de Lúpulos. A performance se repetiu em 2025, com outra medalha de prata na categoria Nugget. Este sucesso é um marco, especialmente porque o mercado de lúpulo, tradicionalmente, esteve dominado por regiões de clima temperado, muito diferentes do Nordeste. A cervejaria alagoana Caatinga Rocks, por exemplo, que já emprega lúpulo cultivado na Fazenda Sete Léguas, viu um de seus rótulos ser eleito o melhor do Brasil no concurso Brasil Beer Cup de 2024. No mesmo evento, a Caatinga Rocks e a Hop Bros, outra cervejaria de Alagoas, figuraram entre as cinquenta melhores do país.
A adaptabilidade do lúpulo ao clima tropical representa um dos maiores desafios desta empreitada, um processo conhecido como tropicalização. A planta, que naturalmente prospera em regiões de clima frio, exige adaptações significativas para lidar com altas temperaturas, longos períodos de insolação e regimes de chuva distintos. Além disso, a saúde da planta se torna um ponto de atenção, pois pragas e doenças são mais frequentes em ambientes tropicais. Para superar esses obstáculos, produtores e pesquisadores investem em irrigação controlada, sombreamento parcial, uso de defensivos biológicos e a seleção criteriosa de variedades mais resistentes ao calor. A Embrapa Tabuleiros Costeiros, em colaboração com universidades locais, desempenha um papel importante na pesquisa sobre manejo de pragas, adubação e técnicas de irrigação. Os trabalhos são tão relevantes que fazem parte de dissertações e teses de pós-graduação da UFAL, com pesquisadores como o entomologista Elio Guzzo e a fitopatologista Selma de Holanda envolvidos.
A celebração da quinta safra de lúpulo no estado marcou o 2º Dia da Colheita do Lúpulo, realizado em março, na Fazenda Sete Léguas. Este evento reuniu cerca de 56 participantes, entre produtores rurais, agroindustriais de cervejas, pesquisadores, técnicos cervejeiros e agrícolas. A aposta dos produtores alagoanos na diversificação de culturas impulsionou a cadeia produtiva de cervejas especiais em diversas localidades, promoveu a produção local da bebida com o uso do ingrediente plantado no próprio estado. O sucesso inspirou testes em Pernambuco e Paraíba, onde a receptividade positiva do público sinalizou um promissor potencial de expansão do cultivo para outras áreas do Nordeste.
A história do lúpulo em Alagoas é um testemunho eloquente do que a união entre ciência, empreendedorismo e inovação pode alcançar. Ela abre novas fronteiras para o setor cervejeiro e oferece aos amantes da cerveja artesanal a oportunidade de degustar rótulos com frescor e uma identidade regional autêntica, provenientes de um lugar onde o sol forte encontra a paixão pela boa cerveja. Um verdadeiro brinde à criatividade nordestina.
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